quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Você nem ao menos quis saber como foi o meu dia. Poderia ter me perguntado, nem que fosse apenas por educação, ou para me deixar alegremente iludida.
Pois bem, me encontrei com uma amiga que não via há muito tempo, e enfrentei uma chuva que molhou até meus ossos.
Nada fora do comum.

Eu não te contaria mesmo.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Summertime

Venho sem muito pique para escrever ultimamente. E quando não são escritas, minhas memórias tornam-se cinza com mais rapidez que o normal. Logo agora, quando elas precisavam tanto de ser rememoradas...
Conheço uma garota que a cada momento, seja bom ou ruim, olha para o céu com o intuito de guardar nessa eternidade azul estrelada o que já tinha passado. Ela deixa suas memórias ali, onde todos podem espiar, mas apenas ela compreende e aprecia o que vê. Assim, poderia entrar no mais íntimo de si quando se encontrasse com a grandeza de uma noite comum. Ela, transformando-se cada dia em uma pessoa diferente, e o céu sempre semelhante aos nossos olhos desatentos, a observá-la e guardá-la, em qualquer lugar temporal ou geográfico em que ela resolva consultá-lo.

Porém, eu não tive esta propriedade. Bastou-me este blog que cá existe, estático, alheio as perturbações que acontecem fora do seu espaço virtual.
Já disseram que palavras são capazes de transpassar tempo e espaço, e um dia, em algum lugar, todas essas que eu manipulei com os dedos no teclado voltarão aos meus olhos, não só para fechar o ciclo, mas também para finalmente fazerem sentido.
Então aqui estou. Dispondo-me analiticamente em palavras, para que eu possa encarar-me e descobrir-me. Pode ser que demore. Não tenho pressa. Não para isso.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Pequeno Mundo

Prestes a me tornar a tia Mari, e após dois sonhos relacionados a gravidez, venho observando com mais indiscrição que o normal os seres humanos em miniatura, vulgas crianças.
Tudo tem que lhes ser ensinado, eles são definidos pela dependência. As mãozinhas seguram com firmeza o tecido da blusa da mãe, e, quando maiores, a mão do pai para passear por aí, colocando sorrisos no rosto de desconhecidos. São tão curiosos, o mundo é tão novo, e os olhos tão brilhantes e vívidos, que parecem cheios da vontade gulosa de engolir de uma só vez toda a complexidade do que há em volta. Já repararam que eles não piscam tanto como os adultos? É pra não perder tempo neste bater de pestanas. Para os pequenos, cada décimo de segundo é tempo demais a perder. E assim eles vão passando, aprendendo a amarrar os cadarços aqui, subindo precariamente nas cadeiras por lá, ao olhar atento dos pais, sempre.

Estava num restaurante, onde mais uma vez pude observá-los de perto, e reparei em outro movimento de atrapalhada candura: o uso dos talheres. Pois além de criar, ensinar os parâmetros de certo e errado, levar à aula de natação e ao colégio, os pais ainda ensinam a usar os talheres. A faca, que a mais de 1,5 milhões de anos ajuda o homem a matar inimigos, caçar alimentos, e passou a ser usada nas mesas da Renascença Italiana, no séc. XIV, a mando das boas maneiras, era, naquele momento, motivo de um sorriso precariamente escondido na minha boca ao espiar o garoto. Com os pés balançando – pois não alcançavam o chão – o garoto travava uma pequena batalha contra a carne que não se deixava partir, apesar de seus esforços em adestrar os dedos nos talheres. Até que, ele tornou-se tão inquieto por não conseguir concluir a tarefa, que a mãe tomou-lhe os talheres, fatiou a carne em pedaços mastigáveis e acabou com a minha graça, mas não com a minha bisbilhotice. Mãe e filho ficaram por lá mais alguns instantes, a tempo de dividirem um sorvete, enquanto o garçom trazia a conta. Deixei-os. Concentrei meus olhos em meu pai, que almoçava sentado a minha frente. Este que me viu crescer, e acompanhou-me pela mão. Este, que provavelmente já vê em mim a Mariana que fará vestibular em quatro meses, mas sem se esquecer jamais daquela que subia com esforço nas cadeiras e não tinha destreza alguma para fatiar o bife. Pois ela ainda existe, por trás da atual e de todas as outras que virão.

domingo, 26 de julho de 2009

Metade da noite meia

-Você quer me cantar?
Esquece num canto a solidão
É só chegar até mim, que eu te ensino a dança.
Largue logo a criança
Não seja tímido assim.
É um pra lá, dois pra cá
O terceiro pra casar.
Mantenha a conta nos lábios e contenha os pés:
Este é o segredo.

O rapaz levantou
Trôpego certeiro no caminho incerto
Seguiu a dama até o âmago do salão.
Poucos foram os olhos nos olhos
E muitos pés nos pés
No reduto da noite que já cedia às pressões do dia.

Porém
Mesmo do canto ao centro
Da surpresa ao contentamento por guiar tão bela dama,
O rapaz não provocou encanto: a moça não se sentiu guiada.
E ele dançou:
Por não saber a valsa
Nem os intrincados jogos do amor.

sábado, 4 de julho de 2009

Queridos Anônimos


“Ô paiê, quem foi Antônio Carlos? E um tal de Afonso Pena? E aquele outro, Carlos Luz?” Ele me informou que todos foram presidentes do Brasil, sendo que este, o último do meu interrogatório, teve o desplante de ficar apenas 3 dias no governo da nação. Satisfeita esta breve curiosidade, de infinitos nomes de pessoas nomeando partes da cidade, muitas outras surgiram. Algumas saciadas, como no caso que contei, outras ainda incógnitas. A atual e principal é a Biblioteca Estadual Luiz de Bessa; este não foi nem Presidente da República nem Engenheiro – como é o caso do Senhor que dá nome a minha rua. Procurei no melhor melhor meio para buscas deste tipo de pergunta, porém descobri apenas que ele também tem sua graça estampada na Escola Estadual Luiz de Bessa. Aquele outro ínfimo site de buscas também não ajudou. Quem foi este homem, meu Deus? Imagino o Sr. Luiz, um homem austero; usava óculos, promovia uma distância passível de respeito para as pessoas ao redor, mas era risonho nos almoços em família aos domingos, quando os filhos se lambuzavam no espaguete preparado pela Sra. Bessa. Foi uma criança ágil, atenta, e muito equilibrada. Um homem que não estava entre os demais, que mereceu honrarias, e hoje descansa. Só não decidi ainda se nesta vida ou nas outras; ou em nenhuma delas.

Na minha megalomania, imaginei a biblioteca Mariana Borges, guardiã de todos os conhecimentos que não tive a oportunidade de acumular em vida. Estaticamente pousada em uma rua de grande porte, mas que se renda ao movimento dos cidadãos a sua volta, e esteja lá para dar aquilo que não se gasta, que nunca é tomado de ninguém, a cultura e o conhecimento que só podemos compartilhar, promovendo sabedoria. Lugar de criar a sede da leitura, e promover calmantes para ela; mas nunca sará-la, relegando aos que a frequentarem os melhores paliativos para tal agonia, até a próxima semana. Aí um dia, alguém passará na sua fachada e também se perguntará quem foi aquela Mariana-sei-lá-o-que.
Estes são apenas capítulos do livro de quem se imortaliza no ignorado mundo dos mapas e dos referenciais; eterno e desconhecido: um nome, mais do que nunca. No caso do Seu Bessa, protegido pelas paredes idealizadas por Niemeyer e concebidas pelo então governador Juscelino Kubitschek, em 1954. Por maior que seja o meu desconhecimento em relação a ele, a admiração já é de bom tamanho.

*caham* Sim. Antônio Carlos não foi Presidente do Brasil. Maldita avenida que me confundiu.
É isso (:

terça-feira, 30 de junho de 2009

*Respira.*

Pode até ser por causa do Pink Floyd em excesso, das teorias da conspiração que têm chegado aos meus ouvidos recentemente, ou ainda, sincera falta do que fazer, mas fato é que hoje me dei conta de que somos todos estimulados a seguir o rebanho antes mesmo de termos consciência da sociedade que nos cerca.
“Pára de fazer arte, menino!”
Arte vira sinônimo de bagunça, contratempo; menino arteiro é aquele que dá trabalho para a mãe e é o terror das visitas.
“Deixa de inventar moda e anda rápido!”
Inventar moda é o que a criança busca fazer de novo, do seu jeito; é como se dissesse: não seja um vanguardista meu filho, pois não vai dar certo mesmo.
O problema não está no pito, mas nas palavras que são usadas, na associação de idéias que ela provoca. Somos, desde crianças, coagidos pelas pessoas ao nosso redor a esquecer a nossa visão única de mundo, e passar a enxergar tudo como todos, sem inovações, sem rebeldia, em nome da formação de pessoas iguais e previsíveis! A arte e a inventividade perdem seu caráter de expressão da criatividade individual em busca de uma uniformidade de pensamento. Não há porque ser diferente, afinal, foi mais do que comprovado que é de outro jeito que as coisas funcionam. Não tente, desista. Não mude, aceite.
Estou estupefata.

sábado, 20 de junho de 2009

Pingos nos i's

Ensinaram-me que chorar é a solução. Devia ser pequena ainda, bebê no berço, chorava instintivamente pelo alimento, proteção, presença. Quando criança, o choro era o apelo, a busca pela atenção, por um olhar mais expressivo no meu dodói e por vontades que eu julgava poderem ser prontamente atendidas. No colégio, aprendi que chorar comove professores, releva faltas e sensibiliza os coleguinhas. Chorar adia decisões, alivia dores, acalma. Mas, ultimamente, não está funcionando para nenhuma finalidade. O choro não traz mais consigo o conforto de outrora ,e nem o sono reparador. Ele me mantém acordada e sã, às voltas com meus medos. Se eu temo o presente ou o futuro, já não sei dizer. Fato é que preciso encontrar soluções que uma dúzia de lágrimas já não sabe fingir. Devo estar crescendo, afinal.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Sal no seco

As janelas da minha alma só sabem ficar embaçadas,
em sincronia com os dias nublados que passam através da retina.
Sem sol
Os dias passam enevoados pelo desejo do sonho que insiste em se
[sobressair a realidade,
em um fingimento louco que me faz temer o momento da queda.
Vertigem.
Vivo fraca para viver a realidade, e muito mais para
[transformá-la.
Porém, mais dia menos dia ela surgirá para mim
Nua
Firme
sem pretensão nenhuma além das que eu mesma criei.
E quando todo o véu cair,
A tristeza da certeza será maior que qualquer lamento à luminosa
[lua cheia.

sábado, 30 de maio de 2009

3ª Pessoa do Singular

Minha mãe dizia que para se conhecer uma pessoa é preciso casar-se com ela. Logo depois, com uma pitada de desilusão, ela diz que as pessoas só se conhecem na separação. Mas não é necessário ir tão longe, basta uma reunião social com alguns patês e coca-cola para que os tipos humanos se revelem.

A oportunidade hoje foi inigualável para observar a desenvoltura das pessoas sem ser notada, era a festa surpresa da irmã da amiga da minha irmã (pausa para o entendimento das complexas relações).

Costumo dizer que da mesma forma que a nossa vida é estratificada pelos anos escolares, ela facilmente também seria pelas festas: a de aniversário de 1 ano de idade, de debutante, de formatura, casamento e dos filhos, recomeçando o ciclo; e um recorrente funeral para finalizar. As pessoas da festa estavam na parte que permeia entre a festa de formatura e o aniversário dos filhos, e como era de se esperar, os passos inseguros das crianças eram o principal foco de atenção de todos, seguido pelas recentes aquisições do prédio, e a bagunça de certos moradores.

Eram muitos papais corujas, outros, nem tanto; mamães preocupadas e sorridentes, por mais paradoxal que isto pareça; solteiros que tentaram se entrosar com os bebês e com os demais solteiros. Os amigos que ajudaram a distribuir a cerveja e os que aguardaram na mesa; os piadistas e o que insistia em contar o problema de manutenção do galpão G6 da fábrica; e esta observadora que vos escreve, que encontrou um olhar no outro lado da mesa: o da aniversariante desconhecida, sutilmente ignorada até então.

- Oi! Feliz aniversário, hein, ... irmã da Patrícia.
Um poço de simpatia.

Depois desse infeliz incidente, não sei se minha irmã ainda me levará para os encontros com os amigos dela. Talvez, se eu decorar os nomes dos aniversariantes, ainda tenha mais uma chance para analisar desconhecidos clandestinamente.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Apesar dos pesares

Evoco os prazeres simples.
Uma tarde amena, com o pôr do sol em tons delicadamente alaranjados. O dia se vai confortável, quente, mas sem o demasiado calor dos primeiros meses do ano. Um cappuccino de receita própria; mais do que o sabor que aquece e agrada cada célula do corpo, um orgulho contido pelo sentimento de “eu que fiz”. A música favorita, que tocou no modo aleatório do mp3, com a chance de 1/286; ou, para os tarados em porcentagens, 0,0035%.
Um recém nascido que chora baixinho bem longe, o telefone que toca trazendo boas notícias, restos da torta doce do fim de semana e um livro para iluminar e engrandecer a tarde.
Nada semelhante a agitação de uma segunda-feira, conversas, barulho, poluição; tudo perde a proporção real perto do momento quase perfeito provocado pela mais aleatória das combinações. Não importa os problemas cotidianos, relevantes e imensuráveis. Parece que pelo menos o acaso está conspirando ao meu favor, e não dá para evitar um sorriso - tímido, é verdade – que insiste em se desenhar em meus lábios.

Tinha um surrão todo de penas cheio...
Um peso enorme para carregar!
Porém as penas, quando o vento veio,
Penas que eram... esvoaçaram no ar...

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Sempre tem uma primeira vez

Eu devia ter uns 9 anos, era a festa de final de ano da empresa do meu pai, e nós, querida família unida que somos, fomos prestigiar o bom ano da empresa do papai. Após o churrasco e os anúncios, me perdi no parquinho com outras crianças, e fiz uma amizade em 5 minutos com uma garotinha. Eis uma habilidade que me arrependo todos os dias por ter perdido; quando nós éramos crianças, fazer amigos era extremamente fácil, contanto que a criança pudesse nos acompanhar nas estripulias tudo estava certo, não havia este tanto de critérios e picuinhas que nós vamos adquirindo com a idade. Nós duas brincamos a tarde inteira, trocamos telefone e confidências. Quando já era hora de ir embora, ela me perguntou: “O que seu pai faz?” “Ele é o diretor da fábrica. E o seu?” “O meu é o porteiro.” Até aí tudo certo; Mas ela resolveu me apresentar para a mãe, com as devidas observações a respeito do cargo do meu pai na empresa. O pai dela também foi reportado da mais nova amiga de sua filha, ficamos conversando por alguns minutos, até que meu pai veio me buscar para ir embora. A bajulação com que eles se cumprimentaram não foi normal, muito menos os gracejos da mãe da minha amiga. Naquele momento, eu notei que eles não se tratavam como nós duas nos tratávamos, e essa disparidade social apareceu pela primeira vez na minha vida, como algo estranho, que parecia fora de lugar depois de um dia inteiro de diversão.
Grande Merda.

sábado, 9 de maio de 2009

Retratada

Em meio a poeira e a cacos de vidro, tinha cabelos pelo chão. Não apenas os seus, compridos e anelados. Eram fios curtos em sua maioria, lisos e encaracolados, negros e grisalhos. Formavam a teia do que já havia acontecido entre aquelas paredes.

Asco seria a palavra correta, mas não fazia parte de seu parco vocabulário, que cultivava em poucas conversas, todas semelhantes em sua essência. Mas nojo bastava.

Era puro nojo; do perfume doce que usava e das roupas vulgares que ostentava. Era um retrato que pintava todas as noites, um papel que desempenhava no circo da avenida escura. E a cada noite abrigava os vários espectadores, sendo a frágil criatura dos acolhedores, mulher para os poucos homens e a mãe da maioria insegura, que a exaltava para rebaixá-la na primeira oportunidade.

Nunca papéis brancos, nem cartas limpas. O jogo era sujo, mas sempre levava o pote da rodada no fim. Sem muito orgulho ou opção, sobrava-lhe apenas resignação.

Contudo, ela tinha plena certeza da sua arte, e sabia voltar a realidade nas horas matutinas. A consciência estava limpa, e lá dentro ela pairava, lívida: Eu escolhi.

terça-feira, 5 de maio de 2009

5 6 7 e 8!


Dentre os membros da família Borges, se encontram em peso os pés-de-valsa. Eles são da pior espécie, dos que não podem ouvir um som mais ou menos harmônico para já se empolgar nos pulinhos animados e passos nada modestos. Só que eu tive a infelicidade de pertencer a minoria estraga prazeres, que aquece lugar nas festas de família e sempre é coagida a dançar apenas no final, quando toca macarena.
Mas a vida, ah, a vida é uma caixinha de surpresas, e acabei sendo de uma turma que faz da dança o filão de união da série. Todos dançam, e os que não dançam se arrependem. Sob uma rigidez quase militar, a turma rege os ensaios por mais de um mês, prepara uma coreografia impecável, bola um painel que ilustra a dança, sem esquecer-se do figurino e da música.
Além do mais, há uma competição entre o ensino médio, então dança é coisa mais do que séria. É a honra do terceiro ano que está em jogo. A minha série ganha os campeonatos desde sempre, e esse, nosso último ano, última dança, últimos xingos e último frio na barriga, era mais do que especial.
Então, no último dia 29, devidamente maquiados e ensaiados, lá fomos nós. O tema era o conto O Alienista, de Machado de Assis. Os adversários estavam muito melhores este ano, e o medo entrou junto com a ansiedade na hora da apresentação. E fomos todos em busca daquela expressão final, que reunia todos os ensaios, todos os choros e dores na perna. O dever foi cumprido, mas não apenas o nosso. Pela primeira vez, os invictos alunos do terceiro ano perderam, e feio. Ficamos em terceiro lugar, merecido e rejeitado, todos confortados em abraços e revoltados, simultaneamente.
Não fiquei muito tempo além do necessário para presenciar as lágrimas generalizadas, até porque, meus olhos estavam tão marejados que mal enxergava meu próprio caminho. Não era só dor de orgulho ferido, era frustração acumulada por seis anos, custávamos a acreditar. Mas esta mesma turma que sempre comemorava junta, soube perder junta, e a derrota acabou tendo mais significação que alguma recorrente vitória. Seguimos em frente, e ao invés de única turma do Colégio Militar de Belo Horizonte que ganhou todos os campeonatos de dança, somos a maior zebra que eu já ouvi falar.

domingo, 26 de abril de 2009

Cortejo incerto


Querido Luis Fernando Verissimo,

Envio-lhe esta carta com o objetivo de esclarecer meus sentimentos em relação a você.
Começou com um livro, mais um na estante. De capa bastante atraente, diga-se de passagem. Foi o bastante para que eu me perguntasse que escritor era aquele que consegue especificações tão íntimas e torna coisas comuns em fatos interessantíssimos, sem nunca faltar com o humor. Era um tal de Verissimo, assim mesmo, sem acento, mesmo antes da reforma ortográfica.
O primeiro livro evoluiu para um segundo, terceiro, e toda esta seqüência de números ordinais. Aí você deixou de ser um livro na estante e passou a ser um dos meus escritores favoritos. De escritor favorito, a coisa extrapolou para outros aspectos que fizeram a minha admiração crescer ainda mais, principalmente no maior sexteto do mundo, tocando sax.
Eu sei que nunca serei como a Patrícia Poeta, mas espero que, mesmo assim, você consiga perceber em mim algumas características para me tornar a metade da sua laranja. Ou do seu limão, maçã, o que preferir.
Não se preocupe com a aceitação popular, Marcelo Camelo e Mallu Magalhães estão aí para mostrar que a diferença de idade é sempre insignificante.
Enfim, deixo a você a tarefa de escrever, e vou parando por aqui.

Com amor (platônico),
Mariana.

PS: Você fica um charme com estes óculos.

domingo, 19 de abril de 2009

22:45h

Morfeu – Filho do sono. Seu nome, derivado da palavra grega que significa “a forma”, derivado da palavra grega que significa “a forma”, indica sua função: é encarregado de tomar a forma humana e apresentar-se aos homens durante os sonhos e apresentar-se aos homens durante os sonhos e apresentar-se aos homens durante os sonhos. Possui grandes asas que, sem ruído, transportam-no rapidamente às extremidades da Terra. Possui grandes asas que, sem ruído, transportam-no rapidamente às extremidades da Terra. É representado com asas de borboleta e portando na mão uma papoula, planta com que faz os homens adormecerem portando na mão uma papoula, planta com que faz os homens adormecerem, planta com que faz os homens adormecerem, depois de

Dormiu.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

A tal da Dona Ana

Dentre as poucas certezas da vida - como a morte ou o teorema de Pitágoras - está a sacralidade da casa da vovó. Aqui o tempo passa diferente, e as coisas acontecem como rituais pré-determinados, sabe-se lá por quem.
A peregrinação começa com a viagem para cá, uma cidade evoluída e bagunçada, mas que parece parada no tempo. As pessoas se cumprimentam na rua e falam baixinho da vida dos vizinhos. As mocinhas tem hora marcada para chegar em casa, depois de tomar sorvete na pracinha e passear por aí com as demais virtuoses do bairro.
Todos pedem bênça pela manhã - estamos em Minas, uai, benção já é um suplício - depois de tomar café e comer pão de queijo; de supermercado, admito.
Vovós tem um colo quentinho e aprendem a ser tão dengosas quanto podem; no fim das contas, não são as avós que estragam os netos, mas netos que criam avós mal-acostumadas. A saudade de um semestre se transforma em abraços e beijos condensados em apenas um feriado, e haja tempo para tantos casos de tantos parentes que nunca ouvi falar; mas rio de todos assim mesmo.
O cabelo dela, de tons cada vez mais prateados, se torna um ninho de tranças e prendedores coloridos, e ela sempre insiste em diminuir o tamanho das minhas madeixas.
Ela ensina canhotas desengonçadas a bordar, jogar bisca e fazer pé-de-moleque. Não que a canhota em questão aprenda, mas a habilidade e a paciência da vovó são incontestáveis.
É tanta coisa, que não dá vontade de voltar pra casa. Só de pensar em provas e ônibus lotados, dá vontade de acampar no quintal e fazer genuína birra de caçula, exigindo que as coisas fossem sempre assim, mornas e acolhedoras.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Alguém me explica?

Outro dia, lá no colégio, a professora de português propôs para o terceiro ano uma dissertação sobre a Situação B do processo seletivo da UNIFAC de 2008. Resolvi postar aqui o que eu escrevi na aula, já que a temática é bem atual e relevante.

"Socialização Tecnológica

Novas tecnologias sempre apresentam faces antagônicas. Assim foi com a pólvora, usada pelos chineses nos belos fogos de artifício e pelos guerreiros medievais como arma de guerra. Da mesma forma, a internet e os tocadores de mp3 são vistos inicialmente com desconfiança, mas provam seus benefícios com o passar do tempo.
O maior medo dos especialistas é o isolamento dos adolescentes que fazem uso contínuo de tais tecnologias. No entanto, é notável o sucesso de sites de relacionamento, como Orkut e myspace, e programas como MSN e skype, que oferecem contato imediato com as pessoas. Isto sem contar com a facilidade de compartilhamento de dados, principalmente musicais, que este sistema oferece.
A Festa do Ipod é um exemplo de jovens que, mesmo tendo todas as tecnologias ao alcance da mão, em seu próprio quarto, ainda optam pela companhia dos demais. Outro exemplo é o Pillow Fight [É amanhã!], tradicional guerra de travesseiros, que acontece em BH e em todo o mundo. Tal evento foi possibilitado apenas pelo advento da internet, onde pessoas se reunem mais facilmente para combinarem encontros.
Com isso, conclui-se que a socialização entre os jovens não está estagnada, está apenas diferente. Cabe aos pais e educadores adaptarem-se a mais esta inovação."

Mas o mais estranho foi, no fim da aula, perceber que eram poucas as pessoas que compartilhavam da mesma opinião que eu; títulos como ‘Tecnojaula’ e ‘Introspecção: a nova tendência’ foram os mais comuns. Se a tecnologia é tão maléfica assim, e todas as pessoas estão tão isoladas, porque todo mundo passa, no mínimo, duas horas diárias só em Orkut e MSN?
Eita geração contraditória esta que eu nasci.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Para quem tem vista plena

Era domingo. Véspera de prova, mil coisas pra estudar; Estava de TPM, havia muitas situações para chorar e xingar, e muitas barras de chocolate para comer. Até aí tudo normal. Foi então que eu abandonei os cadernos e resolvi entrar no Orkut. Normal, também.
Só que no Orkut figurava um scrap novo, de um amigo me convidando para a apresentação do seu grupo de teatro. Combinei com minha mãe e saí para assistir o espetáculo, de ônibus, uma coisa inimaginável em Betim numa tarde de domingo. Mas o ônibus chegou bem rápido, e em pouco tempo estava na porta do teatro Santo Agostinho, conforme me indicava o scrap. Mas aí cheguei à conclusão que, ou meu amigo pretendia apresentar só para mim, ou que o teatro estava fechado mesmo e eu iria me cansar e ligar para minha mãe, completamente desiludida. Sim, o teatro estava fechado, a cadeado. Não figurava nenhuma alma viva nas redondezas. Apenas eu e meu celular. Contudo, uma senhora dobrou a esquina, mais tarde descobri seu nome, Dona Ana. A Dona Ana estava vivendo a mesma alucinação que eu, fomos ambas assistir uma apresentação que visivelmente não era ali. Após minutos no celular, ela descobriu que, na verdade, o local correto era o Teatro Pio XII, a míseros seis quarteirões dali. O que não era nada para sapatos recém comprados, que criaram bolhas que logo se estouraram. Segui descalça. Dona Ana se mostrou uma senhora simpática, animada, que agüentou os morros melhor que eu. Não sei o que teria acontecido se ela não estivesse lá. Aliás, sei sim, teria ligado para minha mãe, e o resto vocês já sabem.
Chegamos ao teatro; eu, com os sapatos na mão e suor molhando a roupa tão cuidadosamente escolhida. Ela, esbravejando a situação, esbanjando humor. Sentamos no fundo, e perdemos o início da peça; mas nada que atrapalhasse a compreensão do todo. O que eu vi ali foi a expressão do que eu estava precisando ver, valores que eu estava me esquecendo. A simplicidade do que foi mostrado destruiu as complexas desilusões onde eu estava me embrenhando, e saí de lá diferente. Dona Ana, chorando, com uma rosa nas mãos – ela ganhou durante a apresentação. Nós nos despedimos, impressionadas com o quanto coincidências – se é que elas existem de verdade – podem ser experiências tão gratificantes.
No fim das contas, não reclamo de nada, foi tudo providencial. É claro que foi bem difícil de explicar para a minha mãe que eu não estava enrolando ela quando disse para me esperar no teatro Santo Agostinho. Mas pouco importa; o aprendizado, o abraço e o sorriso dos meus amigos valeram todas as penas.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Postulado de desejos

Quero ser como as crianças que rodopiam
bem no meio da homilia do padre,
desviando a atenção dos fiéis.
Infiéis.

Quero passar a vida estudando, mas estudando de verdade.
Não este aglomerado de conteúdos decorados
e concursos de beleza
e alienação
que eu presencio agora.
Sem demora!

Quero pensamentos fluindo até a cabeça fundir alhos e bugalhos
quero dedos doloridos de tanto escrever
quero lágrimas derramadas pelo prazer de sentir.
Não me omitir.

Só não me peça para que eu pare,
não exija compreensão,
e não pense que me faltam parafusos.
É que eles simplesmente não se ajustam.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Gentileza, passe a diante

Tem certas pessoas que eu morro de curiosidade de saber como foram parar no meu Orkut, sabe. :D

que drama! acha mesmo que entrei para ver seu rosto ridiculo, o dedo escorregou e caiu em vc, levei até susto com sua feiura, morro de vontade de saber porque que vc está num seit de relacionamento? é pra assustar?

nossa! não foi drama nenhum o que eu disse! sinto te dizer, mas você entendeu errado as minhas palavras.
foi simplesmente pura curiosidade de saber da onde você me achou, já que não temos nenhum amigo em comum, oras.

oi mariana, tudo que escrevi foi mentira, vc parece ser um doce de pessoa,desculpa, eu que ja estou desacreditada nas pessoas. vc apesar de tudo foi educada, essa é a verdadeira beleza.

Que bom! Acho então que consegui passar uma impressão muito fiel!
Bem, eu tive pensamentos nada educados, mas você não merecia ouvir - ler na verdade.
E essa sua misantropia me lembrou demais o Harry Heller, do Lobo da Estepe.

que bom que vc entendeu,ja estou a mais tempo no mundo,é normal,desejo que vc siga seu caminho feliz e tranquila,equilibrando nas estrelas seus passos rios e sonhos...

muito obrigada!
e sorte no teu caminho também (:


oi?

domingo, 8 de março de 2009

Metamorfose

Num belo dia randômico das férias - eu sempre acabo perdendo a noção dos dias - uma mamãe-pássaro resolveu que uma janela do 6º andar era o lugar ideal para criar seus filhotinhos. Naquela época, São Pedro ainda tinha dó dos terráquios, e mandava chuvas diárias para a alegria das plantas e o desespero da Sra Pássaro, que abria suas longas asas sobre os ovinhos.

Nasceram. E a chuva era contínua. Passou pela cabeça da Dona Isabel, vulga mamãe, fazer um telhado para o ninho; mas quem somos nós para meter o bedelho nos propósitos da natureza?
Quando a chuva dava períodos de trégua, o canto dos pequenos se fazia ouvir por toda a casa; cantavam a fome e a tristeza alegre daquele mundo recém-lavado que conheciam, onde o sol não ousava dar nem uma espiada.

Cresceram. Chuva outra vez.

Até que numa certa manhã, quando cheguei na janela para a vistoria diária do ninho, qual não foi a minha surpresa por constatar ali apenas um passarinho, já fora do ninho, no peitoril da janela, se preparando para dominar os ares? Faltaram travesseiros para a Dona Isabel e eu, que quase acampamos no quarto para acompanhar aquele momento.
Mas ele era tímido. Bastou que tivéssemos um instante de distração para que ele realizasse seu vôo, despercebido. E pronto, não estava mais lá, seguiu seu caminho. Porque uma hora todos saímos do ovo, da janela e da proteção das asas alheias.
Saímos do mundo conhecido em busca de um lugar, seja ele onde for.
E tem gente que permanece lá, só olhando.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Basta

O que faz alguém repudiar sonhos alheios? Por que com a idade, parece que a maioria das pessoas se torna ignorante ao invés de sábia? São questões que povoam minha cabeça hoje.
Odeio quando me olham com sorrisos indiferentes e com conselhos de que toda esta vontade de viver um dia vai passar. Soa como se viesse de alguém frustrado nos seus próprios sonhos.
O que faz alguém abandonar seus ideais por uma vida rotineira e medíocre? Comodismo? Derrota? Amor ao tédio?
Odeio pensar que é assim que uma vida adulta e responsável deve ser.
Odeio que pensem que isto é crise adolescente.
Ódio é realmente uma palavra muito forte. Mas é tudo o que eu sinto.
- Eu não sirvo para isso.
E fechou mais uma porta.
Antes mesmo de tentar abrí-la.

Mother, did it need to be so high?

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Qual vai ser o programa, hein?

No início eram só meus drugues, estes mesmo, que você conhece de longa data. Até que um deles sugeriu que nós fossemos a biblio, porque passar o dia bebendo moloco e fingindo que íamos a escoliuo não estava dando certo mais. Sem contar os maltchiques safados, que contavam horas vendo revistas de ptisas só de níjenes, algumas até completamente nagóis.

Chegamos lá bem escorre. Uma babúcheca avisou que a carteira para se associar era só um malenque; mas mesmo que custasse mais, o que não estava faltando era dengue nos cármans.

Enquanto isso, a babúcheca que nos atendeu na entrada chamou um tcheloveque, que nos privodiou ao andar superior, onde ficam os livros. No caminho ele falou até demais, contando a rascadze da djísene dele, e essa quel toda. Parecia que ele tinha esse rábite na biblio a muito tempo, mas não passava de um maltchique molodói, como a gente.
Esta Bíblio é uma méssito horrorshow, fica perto de uma das praças mais bonitas daqui de BH. Tem um saguão bolche, que cheira a lugar limpo e dorogói.

Cada um de nós ia procurar um livro em especial, e eu fui obstinadamente atrás do famigerado Laranja Mecânica. Depois de chegar a minha raze de procurar, qual não foi a minha surpresa de vê-lo ali, na estante, piscando para os meus glazes, só esperando que eu o pegasse. Esmequei igual bezúmine.
No ônibus, em casa, e na escoliuo. Todos os lugares se tornaram ideais para que eu lesse o livro, e terminei a leitura de uma raze só.
Desde então, eslucho tcheloveques falando que usar gírias nadsat é coisa de ptisa chute, mas nem ligo. Não preciso desses drugues mais.
Agora só me interesso pelo Alex, pelos tchassos brétchenes, pela biblio e por essa quel toda.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Sobre Aniversário e Álgebra

17. Número primo.
Nunca fui muito com a cara de números primos, eles não estão para brincadeiras. Não dá para encontrar divisores nem múltiplos comuns. Com eles a coisa é preto no branco, tudo ou nada, 17 ou apenas 1.
17 da idade somados aos 17 do dia, dividido pelo mês dois. Aí lascou-se, novamente 17. Um número que é símbolo de si mesmo, uma metalinguagem traduzida. Tudo o que este ano será, até que cheguem os 18.
Ah, os 18!
Com todos os seus múltiplos e divisores, cheio de possibilidades. Multiplicidade na faculdade e na lei, na carteira de motorista e do trabalho.
Mas, por enquanto, que venham os 17, pois apesar da bipolaridade, continua no comodismo descompromissado.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Não me diga!

Segunda-feira, 16 de fevereiro, em torno das sete e meia.
Cheguei do inglês, tomei banho e estava absorta em meio aos cadernos.
Dia comum. Fatos comuns.

O destino do meu dia seria a cama, até que a Dona Isabel chegou com a notícia de que minha irmã vai acrescentar um ser a estirpe dos Borges! E eu não estou me referindo a um individuo como o Guga, aquele shytzu maldito que alegra os meus natais. Ela está gerando uma coisinha, um aglomerado de células totipotentes que irá se tornar um bebezinho!

Minha irmã, grávida!
Eu, tia!
Meus pais, avós!

São muitas noticias que cabem em uma só, várias faces para esse mesmo conjunto de tecido meristemático que está se formando.
E a você, querida irmã, só deixo um recado: Parabéns, sua vaca! Muito obrigada por eu não ter sabido disso pela sua boca.

Bem, e o meu dia continuará acabando na cama. Mas agora, com um pensamento a mais para fluir na cabeça.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Pasárgada

Era uma vez o Condado do Orkut.
Onde tudo é bonito, azul da cor do céu.
Neste Reino, há muitas princesas, todas trajando suas melhores roupas, enfeitadas com jóias e com o sorriso perene. Todas são legais, bonitas e ainda são inteligentes! Afinal, citam Clarisse Lispector e Shakespeare, oras. Lá elas colecionam fotos com suas amigas eternas nos lugares mais legais que esteve; às vezes juntas, às vezes separadas, são todas muito admiradas.
Elas estão em busca do Príncipe do Orkut, aquele mesmo, do cavalo branco. Mas o caminho em busca do príncipe não é nada simples, pois lá também é o habitat de tantos sapos!
No Condado do Orkut todo mundo se ama, fazem demonstrações públicas de carinho, ninguém é deixado de lado, todos são muito importantes. E se bate a saudade, nada que meia dúzia de palavras não resolva.
Lá todo mundo é amigo, não existe discórdia; Todo mundo é feliz.
Mas não se esqueça: Só no Condado Encantado do Orkut.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

♪ What have you done to my heart?

E aí que eram duas da manhã, e ela estava em frente aos seus velhos álbuns de fotografias, depois de muitos CDs de Cappuccino e litros de Billie Holiday. E um pensamento lhe dominava, aquele que se sobrepunha ao mol de todos os outros era: ‘Porque raios ele tinha que ter braços tão quentes?’
Não só quentes, mas também fortes e aconchegantes.
Além de tudo, acolhedores e afáveis.
Enfim, braços que lhe faziam uma falta indizível naquela noite.

Eles se conheceram na viagem, e desde a volta que as coisas não eram as mesmas. As juras feitas pareciam obsoletas em meio a tanto concreto, e os olhares não se assemelhavam em nenhum aspecto ao brilho que ela havia presenciado em meio àquelas montanhas.
Tratou logo de tentar esquecer tal rapaz, o que foi dificultado pela presença freqüente, em pensamento, de seus ombros, costas, olhos e braços.
Ah, os braços.

Enquanto estava envolvida em si mesma, a campainha toca, e uma série de acontecimentos acontece simultaneamente: ela pula do sofá, o coração acelera, e a boca fica seca. Sim, a adrenalina.
A campainha toca novamente.
Ela abre a porta, com todos os seus anseios em um girar de maçaneta. Mas era só a Carol, trazendo mais um pote de sorvete.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Dois longos meses.



Isto é o que chamam de férias escolares.
Isto é o que eu chamo de tédio previamente delimitado.

Fortunadamente, amanhã voltam as aulas e as atividades matutinas. E não há quem não me convença de que, daqui a dois meses - no máximo -, eu vou estar suplicando por dias vazios sem ter o que fazer.
A vida realmente tem um puta humor negro.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Infantilidade


São indiscutíveis os sinais de como nós estamos envelhecendo – precisamente, crescendo. E eu não estou me referindo a pêlos indesejáveis e gracejos inoportunos, e sim de ir ao clube para tomar sol ao invés de se esbaldar na piscina ou ficar feliz ao ganhar roupas no Natal, por exemplo.

No meu caso, ainda tem o agravante de eu ser a caçulinha do papai, que já me assegurou que serei a bebê dele para sempre. Foi neste espírito de “pequenina do papai” que, no Dia das Crianças do ano passado, quando minha mãe resolveu ir com a minha irmã fazer as compras mensais no supermercado, eu – com meu melhor sorriso malandro – pedi:

– Ô mãe, traz alguma coisa legal de lá para mim?

Sim, eu me aproveito de datas comerciais para ganhar presentes. E não precisava ser nem um super quebra-cabeça de 3.000 peças, uma caixa de bombons já estaria de bom tamanho.

Passado um tempo, elas chegaram em casa, e minha irmã deixou uma sacola na minha cama, que continha nada menos que absorventes e mais um desses xampus que deixam seu cabelo 20 vezes mais liso. É nessas horas que o mundo desaba nas nossas costas com a notícia de que você não tem 6, mas 16 anos. E desta vez, sem quebra-cabeça de 3.000 peças.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Enquanto eu estou de férias, e passo boa parte do meu tempo em frente ao computador, ouvindo música, lendo blogs e conversando por Orkut e MSN, uma sensação de invalidez me invade.
Cá estou, de pijama, afinal acordei há apenas algumas horas. O café-da-manhã vira almoço, ou vice versa. Não tenho nada programado para o dia, e mesmo assim não faço o que gostaria, como terminar de ler o livro que estou lendo ou dar umas voltas as cegas por aí.
É algo mais profundo que o tédio, a solidão e a preguiça, tudo se mistura num vazio enorme, onde a música e as palavras não conseguem chegar.
Mas não sei se daqui a duas semanas, quando as aulas recomeçarem, este vazio será preenchido. E essa incerteza me corrói, de que eu posso estar vivendo em busca de nada, e acabar tudo assim, vazio.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Sala 310

- Hora da prova, gente. Vamos entrando.

Hora do massacre, a aplicadora quis dizer. É nesta hora que você olha para os seus amigos com olhos lacrimejantes e esperançosos de que os céus lhe digam como fazer uma redação que poderia ser sobre sete livros, e você não leu nenhum deles.

٭

Já sabia que eu odiava esperar. Mas pior do que o verbo “esperar” é a sentença “esperar que o relógio marque o fim de uma prova de redação que eu não sabia bulhufas sobre o tema e que havia demorado uma hora para começar”.

Quando eu digo uma hora, não pensem em uma hora na internet ou assistindo a um bom filme, mas uma hora em uma sala de aula maçante onde só se ouvia o ranger dos saltos da aplicadora e o vai-e-vem dos lápis.

Uma hora, querido leitor.
No mais completo tédio.
Redefinindo o significado da palavra tédio.

٭

Peguei o comprovante do meu vestibular e a caneta, então comecei a desenhar, ocupando todo o verso da folha. Riscos indo, voltando... Círculos, rostos... Passaram-se 20 minutos.

Rasguei um pedacinho quadrado do mesmo comprovante e me ocupei fazendo origami.
Segue o diálogo que travei, apenas com os olhos, com a aplicadora:
- Candidata, o quê você está fazendo?
- Um origami com um pedaço do meu comprovante.
- Mas por quê?!
- Pois já tem meia hora que eu acabei a prova e ainda falta meia hora para vocês me liberarem.

O origami que eu fiz é o meu preferido: algo entre uma flor e uma árvore de natal. Como tinha tempo de sobra, desenhei o papel inteiro, enchi de bolinhas e adornos; acabou se parecendo mais com uma árvore de natal.
A única exceção é que faltou luz na hora de inventar uma redação, e eu não vou receber um dez de presente.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Amor Platônico

Ela: Lá vem ele de novo, e olha! Sem livros desta vez, está com os fones de ouvido. E cortou o cabelo! Porque esse cara foi sentar do meu lado? Ele bem que podia ficar aqui por perto.
Ele: A mesma garota me olhando, todo dia. Ela até que é bonitinha. Pernas bonitas dentro do Jeans. É uma pena que hoje em dia voltamos ao tempo em que o máximo é observar os tornozelos, sempre gostei de pernas. Pernas com saias curtas, e sandálias de salto. Ai.
Ela: Será que eu devia falar alguma coisa? Cumprimentar, sei lá, puxar um assunto. Ele também usa all star e gosta de ler. “Já leu Harry Potter?” Vai soar infantil demais. “Já leu Dostoievski?” Nem eu nunca li Dostoievski!
Ele: É garoto, estou perdendo oportunidade. A garota é bonita, te olha todos os dias e você não fala nada? I, olha lá, ela vai falar alguma coisa.

- Oi.
- Oi.
- Você quer que eu segure sua mochila?
- Não precisa não, obrigado. Eu desço no próximo ponto.
- Ok.

Ela: É verdade, ele sempre desce em frente ao Parque Municipal. Como fui esquecer isso? Agora ele vai ficar achando que eu sou uma boba.
Ele: Devia ter aceitado, vai que começasse uma conversa... “A mochila tá pesada, né? Hoje foi dureza no colégio.” “Coitado, deita aqui, ó, eu te faço um cafuné para relaxar.” “Aqui, no ônibus?” “Não se preocupa não, lá em casa a gente termina.” Mas ficou tarde, já chegou no parque.

- Tchau, ein? Brigado.
- Tchau.

Ele desceu; As férias começaram. E eles nunca mais se vêem.

Suspiro.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Adeus ano velho, feliz língua nova!

Primeiro dia do ano e eu não estou aqui para desejar feliz 2009 e desculpa qualquer coisa, mas sim para falar da mudança ortográfica na língua portuguesa que entra em vigor este ano.

Não sabe? Como estou no espírito utilidade pública, só clicar aqui,
ó.

Queria fazer um texto totalmente adaptado às mudanças na língua, mas faltou paciência, coisa que deveria sobrar no primeiro dia do ano, confraternização mundial, etc; Porém não é o caso.

Acontece que lá vem uma nova mudança no Português, a primeira que eu me lembre na minha existência. E nada como ela ser regulamentada em lei ao invés de ser consagrada pelos genuínos falantes, tudo em busca de uma unificação lingüística que é um argumento bem ultrapassado se levarmos em conta a atual era da globalização.

As mudanças devem ocorrer naturalmente, afinal, o português falado no Brasil é uma língua viva, e como tal, sofre adaptações feitas pelos brasileiros. Isto sem contar os milhares de livros – principalmente didáticos -, sites da internet, programas de computador, placas; tudo se tornará desatualizado. Imaginar que daqui a alguns anos, quando eu reler Desventuras em Série, a grafia das palavras será tão estranha quanto hoje é a de Eça de Queirós soa quase utópico.

[Um viva! bem alto pro Fi e pro Ley! (:]