Em meio a poeira e a cacos de vidro, tinha cabelos pelo chão. Não apenas os seus, compridos e anelados. Eram fios curtos em sua maioria, lisos e encaracolados, negros e grisalhos. Formavam a teia do que já havia acontecido entre aquelas paredes.
Asco seria a palavra correta, mas não fazia parte de seu parco vocabulário, que cultivava em poucas conversas, todas semelhantes em sua essência. Mas nojo bastava.
Era puro nojo; do perfume doce que usava e das roupas vulgares que ostentava. Era um retrato que pintava todas as noites, um papel que desempenhava no circo da avenida escura. E a cada noite abrigava os vários espectadores, sendo a frágil criatura dos acolhedores, mulher para os poucos homens e a mãe da maioria insegura, que a exaltava para rebaixá-la na primeira oportunidade.
Nunca papéis brancos, nem cartas limpas. O jogo era sujo, mas sempre levava o pote da rodada no fim. Sem muito orgulho ou opção, sobrava-lhe apenas resignação.
Contudo, ela tinha plena certeza da sua arte, e sabia voltar a realidade nas horas matutinas. A consciência estava limpa, e lá dentro ela pairava, lívida: Eu escolhi.
sábado, 9 de maio de 2009
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3 comentários:
é isso ai...
Bjos
ela se permite rebaixar, então sai por cima. mulheres da vida não são toda aquela ingenuidade que eu achava antigamente..
essa dos cabelos formando a "teia do que havia acontecido" é um momento muito bem feito do texto. uma narração fora do comum, coisa boa
isso é fragmento de algo maior? podia ser hein
Menina, você tem muito o dom da escrita. Apaixonei com o que você escreve. Parabéns!
Ah, e sou eu, a Stéphanie do condomínio e das barbies.
Saudades.
beijo
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