terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O Homem-barata

O Homem-barata zapeava canais da televisão atrás de nem ele sabia o quê.
Porém não encontrava nada para agradá-lo, e perdia o sono.

O brilho da TV refletido nos olhos, a boca emudecida e entre-aberta, o dedo apertando o botão esquerdo do controle remoto, em movimento peristáltico. Instantes de escuridão e silêncio até que o próximo canal ilumine a tela. Silêncio da madrugada. Luz dos jatos de elétrons. Escuro da noite alta. Vozes de pessoas impalpáveis.

Ele nunca se resolveria.
Nem pelo canal que prestaria sua atenção nem pela vida que arrastaria depois que a insônia acabasse e o sono chegasse e a manhã viesse para que mais um dia indiferente se passe. O Homem-barata é um ser imediatista, quer uma vida nova como quer um canal novo, sem nenhum esforço além da contínua pressão exercida pelo polegar.

O brilho continuaria sendo apenas refletido, até que ele conseguisse se acender e produzir luz própria. "Mas isso toma um tempo... Bom é me aconchegar e me ligar na única fonte iluminada da madrugada."
Ele se esquece que a TV também acaba sendo desligada, e há muito já se esqueceu do brilho dos astros do céu, tão fora de alcance.