sexta-feira, 10 de abril de 2009

A tal da Dona Ana

Dentre as poucas certezas da vida - como a morte ou o teorema de Pitágoras - está a sacralidade da casa da vovó. Aqui o tempo passa diferente, e as coisas acontecem como rituais pré-determinados, sabe-se lá por quem.
A peregrinação começa com a viagem para cá, uma cidade evoluída e bagunçada, mas que parece parada no tempo. As pessoas se cumprimentam na rua e falam baixinho da vida dos vizinhos. As mocinhas tem hora marcada para chegar em casa, depois de tomar sorvete na pracinha e passear por aí com as demais virtuoses do bairro.
Todos pedem bênça pela manhã - estamos em Minas, uai, benção já é um suplício - depois de tomar café e comer pão de queijo; de supermercado, admito.
Vovós tem um colo quentinho e aprendem a ser tão dengosas quanto podem; no fim das contas, não são as avós que estragam os netos, mas netos que criam avós mal-acostumadas. A saudade de um semestre se transforma em abraços e beijos condensados em apenas um feriado, e haja tempo para tantos casos de tantos parentes que nunca ouvi falar; mas rio de todos assim mesmo.
O cabelo dela, de tons cada vez mais prateados, se torna um ninho de tranças e prendedores coloridos, e ela sempre insiste em diminuir o tamanho das minhas madeixas.
Ela ensina canhotas desengonçadas a bordar, jogar bisca e fazer pé-de-moleque. Não que a canhota em questão aprenda, mas a habilidade e a paciência da vovó são incontestáveis.
É tanta coisa, que não dá vontade de voltar pra casa. Só de pensar em provas e ônibus lotados, dá vontade de acampar no quintal e fazer genuína birra de caçula, exigindo que as coisas fossem sempre assim, mornas e acolhedoras.

3 comentários:

Luzinha disse...

casa de vó sempre é bom....no interior de Minas melhor ainda..
Bjos

Rosca disse...

na casa da vovó tudo vira festa!

Luzinha disse...

Marcando presençaaa

bjos