domingo, 8 de março de 2009

Metamorfose

Num belo dia randômico das férias - eu sempre acabo perdendo a noção dos dias - uma mamãe-pássaro resolveu que uma janela do 6º andar era o lugar ideal para criar seus filhotinhos. Naquela época, São Pedro ainda tinha dó dos terráquios, e mandava chuvas diárias para a alegria das plantas e o desespero da Sra Pássaro, que abria suas longas asas sobre os ovinhos.

Nasceram. E a chuva era contínua. Passou pela cabeça da Dona Isabel, vulga mamãe, fazer um telhado para o ninho; mas quem somos nós para meter o bedelho nos propósitos da natureza?
Quando a chuva dava períodos de trégua, o canto dos pequenos se fazia ouvir por toda a casa; cantavam a fome e a tristeza alegre daquele mundo recém-lavado que conheciam, onde o sol não ousava dar nem uma espiada.

Cresceram. Chuva outra vez.

Até que numa certa manhã, quando cheguei na janela para a vistoria diária do ninho, qual não foi a minha surpresa por constatar ali apenas um passarinho, já fora do ninho, no peitoril da janela, se preparando para dominar os ares? Faltaram travesseiros para a Dona Isabel e eu, que quase acampamos no quarto para acompanhar aquele momento.
Mas ele era tímido. Bastou que tivéssemos um instante de distração para que ele realizasse seu vôo, despercebido. E pronto, não estava mais lá, seguiu seu caminho. Porque uma hora todos saímos do ovo, da janela e da proteção das asas alheias.
Saímos do mundo conhecido em busca de um lugar, seja ele onde for.
E tem gente que permanece lá, só olhando.

2 comentários:

nucci disse...

ficou bom esse "daquele mundo recém-lavado que conheciam"

a natureza tem essa caracteristica manera né.. várias histórias acontecendo ao mesmo tempo, em diferentes lugares e diferentes níveis de ampliação.. sempre acessível à vista não cansada

a cena final (que vcs perderam!) ja diz tudo: chega um momento que o filho não pode mais ser protegido, amarrado, ou mesmo acompanhado.. ele tem coisas a fazer por aí!

obs: essa planta da foto me é familiar, brincava direto qdo criança, espetando alfinete nela e vendo seu tempo de recuperação (elas cicatrizam!)

Anônimo disse...

Coisas da natureza...e sem explicações

bjos