quarta-feira, 26 de agosto de 2009

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Pequeno Mundo

Prestes a me tornar a tia Mari, e após dois sonhos relacionados a gravidez, venho observando com mais indiscrição que o normal os seres humanos em miniatura, vulgas crianças.
Tudo tem que lhes ser ensinado, eles são definidos pela dependência. As mãozinhas seguram com firmeza o tecido da blusa da mãe, e, quando maiores, a mão do pai para passear por aí, colocando sorrisos no rosto de desconhecidos. São tão curiosos, o mundo é tão novo, e os olhos tão brilhantes e vívidos, que parecem cheios da vontade gulosa de engolir de uma só vez toda a complexidade do que há em volta. Já repararam que eles não piscam tanto como os adultos? É pra não perder tempo neste bater de pestanas. Para os pequenos, cada décimo de segundo é tempo demais a perder. E assim eles vão passando, aprendendo a amarrar os cadarços aqui, subindo precariamente nas cadeiras por lá, ao olhar atento dos pais, sempre.

Estava num restaurante, onde mais uma vez pude observá-los de perto, e reparei em outro movimento de atrapalhada candura: o uso dos talheres. Pois além de criar, ensinar os parâmetros de certo e errado, levar à aula de natação e ao colégio, os pais ainda ensinam a usar os talheres. A faca, que a mais de 1,5 milhões de anos ajuda o homem a matar inimigos, caçar alimentos, e passou a ser usada nas mesas da Renascença Italiana, no séc. XIV, a mando das boas maneiras, era, naquele momento, motivo de um sorriso precariamente escondido na minha boca ao espiar o garoto. Com os pés balançando – pois não alcançavam o chão – o garoto travava uma pequena batalha contra a carne que não se deixava partir, apesar de seus esforços em adestrar os dedos nos talheres. Até que, ele tornou-se tão inquieto por não conseguir concluir a tarefa, que a mãe tomou-lhe os talheres, fatiou a carne em pedaços mastigáveis e acabou com a minha graça, mas não com a minha bisbilhotice. Mãe e filho ficaram por lá mais alguns instantes, a tempo de dividirem um sorvete, enquanto o garçom trazia a conta. Deixei-os. Concentrei meus olhos em meu pai, que almoçava sentado a minha frente. Este que me viu crescer, e acompanhou-me pela mão. Este, que provavelmente já vê em mim a Mariana que fará vestibular em quatro meses, mas sem se esquecer jamais daquela que subia com esforço nas cadeiras e não tinha destreza alguma para fatiar o bife. Pois ela ainda existe, por trás da atual e de todas as outras que virão.