terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Infantilidade


São indiscutíveis os sinais de como nós estamos envelhecendo – precisamente, crescendo. E eu não estou me referindo a pêlos indesejáveis e gracejos inoportunos, e sim de ir ao clube para tomar sol ao invés de se esbaldar na piscina ou ficar feliz ao ganhar roupas no Natal, por exemplo.

No meu caso, ainda tem o agravante de eu ser a caçulinha do papai, que já me assegurou que serei a bebê dele para sempre. Foi neste espírito de “pequenina do papai” que, no Dia das Crianças do ano passado, quando minha mãe resolveu ir com a minha irmã fazer as compras mensais no supermercado, eu – com meu melhor sorriso malandro – pedi:

– Ô mãe, traz alguma coisa legal de lá para mim?

Sim, eu me aproveito de datas comerciais para ganhar presentes. E não precisava ser nem um super quebra-cabeça de 3.000 peças, uma caixa de bombons já estaria de bom tamanho.

Passado um tempo, elas chegaram em casa, e minha irmã deixou uma sacola na minha cama, que continha nada menos que absorventes e mais um desses xampus que deixam seu cabelo 20 vezes mais liso. É nessas horas que o mundo desaba nas nossas costas com a notícia de que você não tem 6, mas 16 anos. E desta vez, sem quebra-cabeça de 3.000 peças.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Enquanto eu estou de férias, e passo boa parte do meu tempo em frente ao computador, ouvindo música, lendo blogs e conversando por Orkut e MSN, uma sensação de invalidez me invade.
Cá estou, de pijama, afinal acordei há apenas algumas horas. O café-da-manhã vira almoço, ou vice versa. Não tenho nada programado para o dia, e mesmo assim não faço o que gostaria, como terminar de ler o livro que estou lendo ou dar umas voltas as cegas por aí.
É algo mais profundo que o tédio, a solidão e a preguiça, tudo se mistura num vazio enorme, onde a música e as palavras não conseguem chegar.
Mas não sei se daqui a duas semanas, quando as aulas recomeçarem, este vazio será preenchido. E essa incerteza me corrói, de que eu posso estar vivendo em busca de nada, e acabar tudo assim, vazio.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Sala 310

- Hora da prova, gente. Vamos entrando.

Hora do massacre, a aplicadora quis dizer. É nesta hora que você olha para os seus amigos com olhos lacrimejantes e esperançosos de que os céus lhe digam como fazer uma redação que poderia ser sobre sete livros, e você não leu nenhum deles.

٭

Já sabia que eu odiava esperar. Mas pior do que o verbo “esperar” é a sentença “esperar que o relógio marque o fim de uma prova de redação que eu não sabia bulhufas sobre o tema e que havia demorado uma hora para começar”.

Quando eu digo uma hora, não pensem em uma hora na internet ou assistindo a um bom filme, mas uma hora em uma sala de aula maçante onde só se ouvia o ranger dos saltos da aplicadora e o vai-e-vem dos lápis.

Uma hora, querido leitor.
No mais completo tédio.
Redefinindo o significado da palavra tédio.

٭

Peguei o comprovante do meu vestibular e a caneta, então comecei a desenhar, ocupando todo o verso da folha. Riscos indo, voltando... Círculos, rostos... Passaram-se 20 minutos.

Rasguei um pedacinho quadrado do mesmo comprovante e me ocupei fazendo origami.
Segue o diálogo que travei, apenas com os olhos, com a aplicadora:
- Candidata, o quê você está fazendo?
- Um origami com um pedaço do meu comprovante.
- Mas por quê?!
- Pois já tem meia hora que eu acabei a prova e ainda falta meia hora para vocês me liberarem.

O origami que eu fiz é o meu preferido: algo entre uma flor e uma árvore de natal. Como tinha tempo de sobra, desenhei o papel inteiro, enchi de bolinhas e adornos; acabou se parecendo mais com uma árvore de natal.
A única exceção é que faltou luz na hora de inventar uma redação, e eu não vou receber um dez de presente.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Amor Platônico

Ela: Lá vem ele de novo, e olha! Sem livros desta vez, está com os fones de ouvido. E cortou o cabelo! Porque esse cara foi sentar do meu lado? Ele bem que podia ficar aqui por perto.
Ele: A mesma garota me olhando, todo dia. Ela até que é bonitinha. Pernas bonitas dentro do Jeans. É uma pena que hoje em dia voltamos ao tempo em que o máximo é observar os tornozelos, sempre gostei de pernas. Pernas com saias curtas, e sandálias de salto. Ai.
Ela: Será que eu devia falar alguma coisa? Cumprimentar, sei lá, puxar um assunto. Ele também usa all star e gosta de ler. “Já leu Harry Potter?” Vai soar infantil demais. “Já leu Dostoievski?” Nem eu nunca li Dostoievski!
Ele: É garoto, estou perdendo oportunidade. A garota é bonita, te olha todos os dias e você não fala nada? I, olha lá, ela vai falar alguma coisa.

- Oi.
- Oi.
- Você quer que eu segure sua mochila?
- Não precisa não, obrigado. Eu desço no próximo ponto.
- Ok.

Ela: É verdade, ele sempre desce em frente ao Parque Municipal. Como fui esquecer isso? Agora ele vai ficar achando que eu sou uma boba.
Ele: Devia ter aceitado, vai que começasse uma conversa... “A mochila tá pesada, né? Hoje foi dureza no colégio.” “Coitado, deita aqui, ó, eu te faço um cafuné para relaxar.” “Aqui, no ônibus?” “Não se preocupa não, lá em casa a gente termina.” Mas ficou tarde, já chegou no parque.

- Tchau, ein? Brigado.
- Tchau.

Ele desceu; As férias começaram. E eles nunca mais se vêem.

Suspiro.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Adeus ano velho, feliz língua nova!

Primeiro dia do ano e eu não estou aqui para desejar feliz 2009 e desculpa qualquer coisa, mas sim para falar da mudança ortográfica na língua portuguesa que entra em vigor este ano.

Não sabe? Como estou no espírito utilidade pública, só clicar aqui,
ó.

Queria fazer um texto totalmente adaptado às mudanças na língua, mas faltou paciência, coisa que deveria sobrar no primeiro dia do ano, confraternização mundial, etc; Porém não é o caso.

Acontece que lá vem uma nova mudança no Português, a primeira que eu me lembre na minha existência. E nada como ela ser regulamentada em lei ao invés de ser consagrada pelos genuínos falantes, tudo em busca de uma unificação lingüística que é um argumento bem ultrapassado se levarmos em conta a atual era da globalização.

As mudanças devem ocorrer naturalmente, afinal, o português falado no Brasil é uma língua viva, e como tal, sofre adaptações feitas pelos brasileiros. Isto sem contar os milhares de livros – principalmente didáticos -, sites da internet, programas de computador, placas; tudo se tornará desatualizado. Imaginar que daqui a alguns anos, quando eu reler Desventuras em Série, a grafia das palavras será tão estranha quanto hoje é a de Eça de Queirós soa quase utópico.

[Um viva! bem alto pro Fi e pro Ley! (:]